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Emergências Espirituais

O termo Emergência Espiritual foi criado nos anos 70 por Stanislav & Christina Grof, referindo-se àquele momento da evolução espiritual de uma pessoa que se transforma numa crise. Estas crises podem ser vistas como momentos de oportunidade, de crescimento e de ascensão a um novo nível de consciência espiritual, contudo, nas nossas sociedades patriarcais e materialistas, nem sempre estamos devidamente preparados para aceitar e ver com bons olhos estas crises e transformações quânticas e pessoais. E o que acontece a maior parte das vezes a estas pessoas é serem encaminhadas para um Hospital Psiquiátrico, rotuladas com alguma psicose ou outra psicopatologia e passando a tomar medicação por toda uma vida sem nunca perceberem ou darem espaço a estas crises de se desenrolarem de uma outra forma mais saudável.

Stanislav & Christina Grof difundiram este conceito após a publicação do livro “Emergência Espiritual: quando a transformação pessoal se torna uma crise”, em 1989. Outros autores atribuem nomes diferentes a esta mesma experiência como é o caso da Experiência Transpessoal, Consciência Cósmica, Consciência Mística, Despertar Espiritual, etc. Normalmente estas crises acontecem após um período de profundo sofrimento ou de acontecimentos que abalam a estrutura do Ser, surgindo a necessidade de encontrar explicações e equilibrar a relação entre a matéria e o espírito. Algumas práticas espirituais e deste movimento New Age, também podem conduzir a estes estados de Emergência Espiritual. O que importa sublinhar é que há crises que são verdadeiras oportunidades de crescimento pessoal e não têm nada que ver com doenças psicopatológicas, o desconhecimento desta realidade é o que dá origem a outros problemas. Reconhecer o potencial curativo destas crises é imprescindível para que o objetivo da Emergência Espiritual se cumpra.

As crises de Emergência Espiritual são caracterizadas por emoções muito intensas e estados de consciência que não são comuns, onde as pessoas vivenciam a morte e o renascimento de vários valores e sentimentos. É como um verdadeiro colapso das estruturas internas que põe em causa antigos padrões de comportamento.

Stanislav Grof define este termo como:

“A evolução de uma pessoa para um modo de ser mais maduro, que envolve uma ótima saúde emocional e psicossomática, maior liberdade de escolha pessoal e uma sensação de ligação profunda com as outras pessoas, com a natureza e com o cosmos. Uma parte importante desse desenvolvimento é um despertar progressivo da dimensão espiritual na vida da pessoa e no esquema universal das coisas.”

Stanislav & Christina Grof fundaram a Rede de Emergências Espirituais, uma organização que ajuda as pessoas com crises psicoespirituais e que existe até aos dias de hoje. Esta foi criada com o intuito de apoiar as pessoas que pudessem receber ajuda especializada no que se refere a estas emergências espirituais, sem cair no estigma psiquiátrico com alguma psicopatologia. Desenvolveram tratamentos alternativos para tratar destas crises psicoespirituais, que muitas vezes não têm qualquer caráter psicopatológico.

As emergências espirituais são então muitas vezes confundidas com alguns transtornos psicopatológicos, mas para evitar essa confusão é essencial um minucioso exame médico e psiquiátrico, de forma a perceber alguns dos critérios que Grof enumera:

  1. Ausência de distúrbios orgânicos cerebrais e de doença física de outro órgão ou sistema que possa ser responsabilizado pelo distúrbio mental;

  1. Ausência de um longo histórico de hospitalização e tratamentos psiquiátricos convencionais;

  1. Condição somática e cardiovascular geral boa, o que permitirá ao paciente submeter-se com segurança às condições desgastantes que possam decorrer do trabalho experiencial e das estratégias de autodescoberta;

  1. Capacidade de ver o distúrbio como um processo psicológico interno e de abordá-lo de uma forma internalizada, aceitando a própria psique sem projeta-la no exterior ou culpabilizando os outros pelas suas dificuldades;

  1. Disponibilidade da pessoa em enfrentar e aceitar experiências fortes e profundas, quer ao nível biográfico, quer ao nível perinatal e transpessoal, demonstrando assim uma capacidade de estabelecer uma relação de trabalho adequada;

  1. Respeitar a visão curadora do processo de transformação, apoiar o seu desenrolar natural e honrar todo o espectro da experiência humana, onde tanto o psicoterapeuta como a pessoa em crise devem estar abertos à dimensão espiritual reconhecendo-a como uma parte fundamental da vida;

  1. Episódios de experiências incomuns que envolvem alteração no funcionamento percetivo, emocional, cognitivo e psicossomático e nos quais se verifique uma acentuada ênfase no aspeto transpessoal do processo, como a presença de sequências de morte e renascimento e fenómenos mitológicos e arquetípicos.

Mais recentemente, David Lukoff e os seus colaboradores conseguiram introduzir a categoria diagnóstica de Problema Religioso ou Espiritual no DSM, Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quando o foco da atenção clínica apresenta temas espirituais ou religiosos. Alguns exemplos incluem experiências angustiantes que envolvem a perda ou questionamento da fé, problemas associados com a conversão a uma nova fé, ou o questionamento de valores espirituais que podem não estar, necessariamente, relacionados com uma igreja ou religião institucionalizada (DSM-IV-TRTM, 2002). Apesar do termo Crise de Emergência Espiritual não ter sido inserido no DSM, esta categoria diagnóstica cria uma abertura para que esses fenómenos possam ser estudados mais a fundo.

No web site de David Lukoff, este oferece informações, cursos e apoio a pessoas em crise psicoespirituais ou a profissionais da área de saúde mental que vale a pena explorar: www.spiritualcompetency.com

Referências Bibliográficas

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2014). DSM-5 – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
  • Grof, S. & Grof, C. (1995). Emergência Espiritual: Crise e Transformacao Espiritual. Editora Cultrix