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Xamanismo

O xamanismo é uma “Jornada da Consciência”, um legado da humanidade além das fronteiras dos países, credos, raças, filosofias. A premissa básica é o reconhecimento que todos fazemos parte da Família Universal e tudo está interligado. O praticante compreende o Espírito Essencial que está dentro dele mesmo, na natureza e em todos os seres. O praticante sabe quem ele é e como se relaciona com o Universo.
Tudo está interligado como na Física Contemporânea.

O xamanismo é a mais antiga prática espiritual da humanidade e tem como base nas suas práticas o respeito pela ecologia, reconhecimento do sagrado, a necessidade da expansão da consciência, obtenção de respostas nos mundos paralelos e prática do amor incondicional.

Na metade dos anos 60, o xamanismo interessava fundamentalmente aos especialistas da Antropologia ou da Psicologia Transpessoal, os exploradores da consciência que procuravam estudar os estados de consciência místico veiculados pelas tradições da humanidade. Para os antropólogos, etnólogos e historiadores das religiões, o xamanismo era uma forma primitiva de religião, suplantada e superada pelas culturas hierarquizadas modernas.

Há cerca de 20 anos, os livros de Michael Harner e Carlos Castanheda abriram a consciência de indivíduos em busca de desenvolvimento pessoal e espiritual para as ideias, crenças, inspirações e experiências diretas dos xamãs.

As pessoas tornaram-se cada vez mais ávidas de se reconectarem com estas tradições xamânicas. Fomos assistindo a uma profunda exploração destas áreas, tornando-se numa via de transformação fundamental e cada vez mais pessoas exploram os seus estados não ordinários de consciência para alcançar o conhecimento e a sabedoria do mundo oculto por detrás do véu. Desde os fins dos anos 80, esse neoxamanismo ancora-se na sociedade ocidental, especialmente na América do Norte, onde muitos buscam as suas raízes tradicionais. O recurso aos cantos sagrados acompanhados de instrumentos de percussão, maracas e tambores, o conhecimento dos animais de poder, descobertos por meio de viagens em níveis profundos de consciência voltaram a ser práticas bastante atuais recorrentes.

É certo que os indígenas foram os grandes responsáveis por manterem acesas as chamas da Medicina da Terra, no entanto, sabemos que o xamanismo não se refere apenas à espiritualidade indígena, mas às práticas que se originaram no homem primitivo, tribal, no paleolítico e que se difundem mesmo no nosso mundo contemporâneo.

As raízes do xamanismo são arcaicas e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana. As origens do xamanismo datam de 40.000 a 50.000 anos, na Idade da Pedra. Os antropólogos têm estudado o xamanismo nas Américas: Norte, Central e Sul. Em África, entre os povos aborígenes da Austrália, Esquimós, Indonésia, Malásia, Senegal, Patagónia, Sibéria, Bali, Velha Inglaterra e ao redor da Europa, no Tibete onde o xamanismo Bon segue a linha do Budismo Tibetano, ou seja, em todos os lugares ao redor do mundo, seus traços estão presentes nas Grandes religiões.

No xamanismo, em diferentes e distantes partes do mundo, podemos ver muitas similaridades que são transversais nesta prática espiritual, como é o caso dos Estados não ordinários de consciência (Remeter para o ponto onde abordamos este tema).
O conhecimento dos Animais de Poder são também fundamentais nesta tradição. Através do recurso das batidas do tambor, podemos aceder aquilo que no xamanismo se chama de animais de poder, que são os espíritos guardiões da nossa vida, um intermediário para aceder outras realidades ou por alguma razão nos querem mostrar alguma mensagem num determinado momento da nossa vida. Nestas viagens, o participante acede aos talentos e às características de algum animal que normalmente o permite trazer alguma mensagem significativa para a sua realidade do seu dia-a-dia. Curiosamente, muitas pessoas que desconhecem esta linguagem, espontaneamente em algumas experiências conectam-se com estes animais de poder, tornando-se assim experiências impactantes para quem as experiencia.

Este é um exercício acessível a todos, mesmo quem não tenha qualquer experiência para viajar internamente assumindo, muitas vezes, a forma de um animal como a águia, um felino, uma serpente, ou alguns outros animais. Daqui podemos compreender a enorme importância e relação que o homem tem com o mundo animal.

Outro recurso transversal e fundamental no xamanismo são os instrumentos de poder para induzir aos estados transe como os tambores, as maracas, o didgeridoo, as taças tibetanas e de um modo geral aqueles instrumentos que atualmente se utilizam nas viagens sonoras indutoras de experiências de relaxamento, eram utilizados pelos antigos xamãs. Existem também outras formas exploradas para aceder a estes estados não ordinários de consciência como a dança, a respiração, a utilização de plantas de purificação, enteógenas, medicinais, canções de poder também conhecidas como canções medicina, etc.

Uma característica do xamanismo é a sua ligação com a sua natureza, com as estações do ano, com os ciclos naturais da vida. Nestas tradições, dá-se muita importância à celebração e honra de cada um desses ciclos. Por vezes, esses ciclos também incluem cerimónias e rituais em grupo ou individualmente, havendo uma conexão feita com um antigo campo de consciência. Chama-se a isto Rituais de Passagem, a criação de um espaço sagrado para a passagem de energia, permitindo que cada um possa aceder a esses campos, transformando-se numa ponte entre o Céu e a Terra. Permite ao coração individual abrir-se de modo a criar um ambiente para que todos os corações humanos abram e expandam.

As poucas celebrações que ainda existem atualmente são os batizados, casamentos e aniversários. No entanto, todas as passagens da vida devem ser marcadas e celebradas. Alguns dos rituais de passagem que deveríamos marcar na nossa vida são a puberdade, a menopausa, os casamentos, as uniões de facto, as separações, os divórcios, as mudanças de trabalho, o término de um tratamento ou de uma terapia, uma determinada cura de uma situação ou doença, um novo relacionamento, etc.

O xamanismo vem crescendo cada vez mais, devido às carências da nossa sociedade atual, à falta de sentido de pertença, ao distanciamento da natureza, à ausência de rituais, à desconexão com o próprio ser humano. O xamanismo permite despertar todo este lado interno do ser humano, esta reconexão com a sociedade, com a natureza, com a ecologia, com a espiritualidade, com o cosmos, com o todo. Neste sentido, o xamanismo, sendo das tradições mais antigas da humanidade é uma prática bem contemporânea, que permite resgatar esta relação sagrada do homem com o planeta que tanto precisamos.

As religiões em geral não se preocupam com a ecologia, nem mesmo com a espiritualidade, pois estão focadas nos seus dogmas e crenças de uma vida eterna fora deste planeta. Os rituais xamânicos podem trazer esta consciência de que somos apenas um microcosmo, que somos parte de algo maior, de um macrocosmo, que somos filhos da Terra, que a Terra não é nossa, mas que apenas pertencemos à Terra.

Referências Bibliográficas

  • Andrews, T. (2002). Animal Speak. Llewellyn Publications
  • Castanheda, C. (1960). A Erva do Diabo: Os Ensinamentos de Dom Juan. Editor Record
  • Gennep, A. V. (2019). The Rites of Passage. The University of Chicago Press
  • Harner, M. (1992). The Way of the Shaman. HarperCollins Publishers
  • Ingerman, S. (2000). Welcome Home. HarperCollins Publishers
  • Meadows, K. (1990). Earth Medicine. Element Books Ltd